sexta-feira, 21 de setembro de 2012

E LIXÕES MUNICIPAIS

Pois é nisso que se transformaram as eleições. Em lixo espalhado pelas ruas, proveniente de “santinhos” e manifestos distribuídos e quase imediatamente descartados por quem os recebe. Afora a poluição visual dos incontáveis cartazes fincados nas calçadas e nos passeios públicos, até danificando-os. Além da inconveniência dos carros de som, com jingles e músicas mal-suportadas
 pelas pessoas em geral, escolas, hospitais. Sem contar os “investimentos” exagerados para chegar lá... É de se perguntar: será que os profissionais da política vão querer retorno?
Felizmente, eu disputo uma cadeira na Câmara sem apelar para isso. A campanha está limitada aos contatos pessoais e Internet. Se haverá ou não receptividade às minhas idéias, pelos eleitores, não sei. Estou consciente que fiz as opções corretas. Elas estão na minha justificativa (vitorazubel50341@blogspot.com.br). A decisão está com os eleitores.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

VOTAR, por Rachel de Queiroz

O voto, na concepção de Rachel de Queiroz
EM 1947, A EXCELENTE ESCRITORA RACHEL DE QUEIROZ, QUE INTEGROU A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS EM 1977, PUBLICOU O ARTIGO A SEGUIR, QUE, EM BOA HORA, PUBLICAMOS NESTE TÃO ÚTIL ESPAÇO:

(ATENÇÃO: A REDAÇÃO É A DA ÉPOCA EM QUE FOI PUBLICADO)

VOTAR (Texto de Rachel de Queiroz. Revista O Cruzeiro, 11 de janeiro de 1947).

Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.
No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: govêrno do povo.
Numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVÊRNO.
Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo.
Escolhe-se pelo voto aquêles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
Escolhemos igualmente pelo voto aquêles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aquêles que irão estipular a quantidade dêsses impostos.
Vejam como é grave a escolha dêsses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gôta de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso.
E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhemse não só aquêles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aquêles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país
entregue a uma quadrilha de falários.
Êles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero.
Não preciso explicar muito êste capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder.Escolhem-se nas eleições aquêles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático.
E, circunstância mais grave e digna de todo o interêsse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de tôdas as fôrças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias. E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fêz um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio - lembrem-se de que não vão proporcionar a êsses sujeitos um simples emprêgo bem remunerado.Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para êles comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fôssem. Entregamos a êsses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a êles prêsa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador. Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim, briga-se com ela, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o govêrno, quando é ruim, êle é quem briga conosco, êle é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da bôca dos nossos filhos e nos faz aprodecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo. E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar êste ou aquêle candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto. Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem mêdo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem mêdo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”.

CULTURA, UM BEM NECESSÁRIO

Vivemos tempos difíceis. Sempre os houve, mas as ameaças que nos rondam hoje alcançaram uma magnitude de tal ordem que exigem profundas análises e ações que possam reverter o processo de destruição que atinge os sistemas vivos. O ser humano, por séculos, construiu uma história de conhecimento e progresso, especialmente na área tecnológica, onde as descobertas desde os meados do século XX avançam em progressão geométrica. A partir principalmente de Descartes – “penso, logo existo” – os humanos, com preponderância do mundo ocidentalizado,   desenvolveram capacidades racionais contundentes, que estão ligadas ao hemisfério cerebral esquerdo. Com exceções, o hemisfério direito, ligado às emoções, à intuição, ao inconsciente, está sendo relegado a segundo plano, provocando desequilíbrios que se refletem no dia-a-dia das pessoas. Em trabalho monográfico de julho de 2005, relacionei 42 questões – certamente há outras – nem sempre percebidas, com as quais as sociedades são instadas a conviver e que podem contaminar o sentido da vida. Para exemplificar, citamos: lógica da acumulação – crescente onda de busca obstinada de poder e dinheiro (o novo Deus), crença no absolutismo das coisas materiais e do ter a qualquer preço (crime organizado: roubos, furtos, mortes, fraudes, subornos, corrupção, falcatruas,....); crescimento econômico inconseqüente, obsessão por números e estatísticas; dilapidação dos recursos naturais – uso e abuso intensivo do planeta, extração e redução dos materiais naturais e transformados; exacerbação do individualismo materialista, baseado em pensamento racional-utilitário. Face a isto, corroborado pela expansão demográfica e de consumo, o mundo vivo está severamente ameaçado de extinção – há estudos científicos internacionais que o comprovam – e nesse diapasão não haverá “escolhidos”, sucumbiremos todos.
            Temos alternativas?  Sim, porém é preciso que as busquemos obstinadamente. Em nível individual, social, municipal e global. Não é fácil, carecemos crer que a mudança de paradigmas é possível. A situação exige profunda mudança de prioridades e atitudes. Primeiramente, desconstruindo o processo histórico de disputa de poder e riqueza material em que há flagrante domínio da obsessão econômica seletiva .e insaciável. É fundamental, também, que revisemos os desequilíbrios impostos pela modernidade, percebendo que os estímulos competitivos, em que as desigualdades de toda ordem vêm a reboque, devem dar lugar à motivação de cooperar (operar junto!) e colaborar no sentido do desenvolvimento de todos, e não de alguns. Qualquer desequilíbrio precisa ser contrabalanceado para que se possa neutralizar os efeitos danosos da escolha de qualquer dos opostos. O pêndulo para apenas um dos lados é desestabilizador. É o que está acontecendo com a nossa sociedade. É preciso que estabeleçamos a integridade dos Seres Humanos, oportunizando o desenvolvimento do hemisfério direito de nosso cérebro, onde se localizam as emoções. E a cultura é justamente o instrumento que lhes dá vazão. De forma alternativa à racional, as emoções provocadas pelas vivências culturais constituem-se em espaços e tempos de conviver, apreciar, pensar, refletir, brincar e, sobretudo, viver com qualidade. Artes, Lazer e Turismo, por exemplo, dentre tantas outras práticas culturais, constituem-se em antídoto ao veneno inoculado diuturnamente pela mídia, especialmente a televisiva (invade todos os lares!), de desastres, desgraças, crimes, inseguranças que, além do estresse e passividade, provocam a insensibilidade pela constância rotineira dos fatos.  Não pode ser descartada a hipótese de que muitas das causas da violência estejam localizadas cingidamente na falta de convívio e acesso aos bens culturais, incluída a Educação, a qual, particularmente em nosso país, ainda é considerada prioritária apenas nos discursos, inclusive por muitos professores preocupados apenas com aspectos informativos. Acesso cultural é fator essencial de equilíbrio que por ter essa condição deve ser público. E, por ser público, deve receber incentivos promocionais e financeiros de acordo com seu real valor. Convençamo-nos todos, em defesa da cidadania e da biologia, de que não haverá paz, nem mesmo sobrevida para ninguém, se continuarmos a privilegiar o econômico sobre o social, a razão sobre a emoção, as obras materiais sobre a concretude do conhecimento, o imediatismo sobre a perenidade das ações de herança histórica, o interesse privado sobre as demandas coletivas.  Insistimos, é o equilíbrio entre os pólos positivo e o negativo que proporciona a saudável neutralidade. Cientes e conscientes do acima exposto, torna-se responsabilidade de todos nós e, incisivamente de agentes, líderes e administradores públicos e privados a adoção de medidas e políticas capazes de modificar o pernicioso quadro atual, incentivando adequadamente a promoção e os investimentos culturais. Ainda que não seja candidata em eleições, a cultura é extremamente necessária e deve obter os nossos votos de modo a ter acento definitivo dentre as prioridades sociais. É a proposta que esperamos seja aceita. Para o bem de todos.
 * Artigo publicado em 17.08.2006, pág. 4,  no Diário da Manhã de Pelotas, RS

domingo, 5 de agosto de 2012

VOTANDO, ASSIM MESMO...

O assunto é recorrente, porém é importantíssimo abordá-lo amiúde sob vários ângulos, pois estamos às portas de definir mais um processo eleitoral. E ao contrário do que preconizam os decepcionados e os alienados, precisamos desenvolver nossa capacidade de discernimento e escolha dos candidatos, ainda que estejamos enojados por tantas falcatruas, corrupção, malversação, enfim incorreções de toda ordem. Mesmo porque, de modo geral, os que se apresentam não são exatamente aquelas personalidades cujo caráter de honestidade, probidade, vocação pública, entre outros atributos, gostaríamos de eleger. E como os “bons” não querem saber de Política, tornam-se corresponsáveis, como todos nós, pela cedência dos espaços políticos, os quais são dominados por gente hábil em iludir, ludibriar, escarnecer, através de uma oratória (ah, como valorizamos os aduladores, manipuladores de palavras...) enganadora que esconde o pouco caso com os assuntos públicos e coletivos. Especialistas nesta arte, tornam-se profissionais da Política, atuam em causa própria e, adonando-se e enraizando-se aos poderes, impedem e não legitimam a necessária alternância e renovação dos quadros políticos. É bem verdade que a maioria de nós, eleitores, pouco conhece a respeito dos meandros eleitorais e das intenções dos postulantes à representação pública. Afora isso, é injustificado que se gaste tanto em propaganda política (os espaços dos partidos em rádio e TV são pagos pelos tribunais eleitorais, portanto, dinheiro público), consumo extraordinário de papel (menos árvores), poluição sonora, tome-se o tempo das pessoas para prometer “n” coisas e poucas vezes cumprir. A não ser com os compromissos assumidos com os empresários financiadores de campanhas, porta pela qual as futuras negociatas são estabelecidas. Os eleitos já tomam posse em dívida com seus patrocinadores. A regra dourada para o sucesso das candidaturas parece ser a exposição na mídia, qualquer que seja ela, a fama tem se tornado mais importante do que a reputação. Há exceções, mas o que quer a maioria dos políticos, artistas, jogadores de futebol, palhaços, dançarinas e outros aspirantes à vida pública em nosso país é acomodar-se nos ganhos (diferentemente de outras nações mais desenvolvidas cujos custos públicos são bem menores) e nas mordomias oferecidas por extravagante e inexplicável ônus para manter as estruturas administrativas (os Governos gastam nababescamente mais do que poderiam) e legislativas, especialmente estas últimas, tanto em nível federal quanto estadual. Isso acontece porque a “curtura” estabelecida é que o dinheiro público não é de ninguém, passível até de apropriações indébitas. Não só dos políticos, é solidariamente compactuada por assessores, funcionários públicos nomeados e concursados, de vários escalões, cujas benesses os mantem vigilantes aos interesses corporativos de sustentação de privilégios. São partidários, sim, mas da lei de Gerson: levar vantagem em tudo. Está valendo qualquer coisa... De outra forma, podemos colocar sob suspeição as pesquisas de opinião pública, pois quem de nós poderia afirmar serem verdadeiras uma vez que, pelo menos eu, não só agora, não conheço ninguém, nunca fui informado ou conversei com alguém que tenha sido entrevistado alguma vez. Quais são os reais objetivos destas pesquisas, manipuladas ou não? Só pode ser para direcionar o eleitor. O que convenhamos é descabido. Não nos deixemos influenciar! Uma outra fumaça paira no ar, além das provindas das queimadas irresponsáveis: a votação eletrônica seria totalmente confiável? Há possibilidades de adulteração, segundo o Desembargador e Juiz Eleitoral aposentado Ilton Dellandréa (via Internet). Todas essas questões não estão sendo levantadas para que anulemos o voto. De nada adiantaria. Com os nossos votos, procedamos de acordo com a consciência de cada um, preferencialmente com conhecimento de causa. E esperar que o processo seja lícito. Com os nossos votos, que os resultados possam trazer maiores benefícios às nossas coletividades.
                                                Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 01.10.2010

VAZIO POLÍTICO

Mais uma eleição passou e mais uma vez ficamos decepcionados com seu processo. Independente de postos políticos em disputa e dos  resultados, a maior parte da população e dos eleitores observou toda sorte de artimanhas e uso de marketing por parte dos candidatos para obter os votos necessários à “vitória” nas urnas. Os que triunfaram exultam porque além da titulação, terão obtido o direito de gozar de todas as mordomias e benesses que a carreira política propicia em países (o nosso também) cuja máxima democrática “governo do povo” é relativizada e serve apenas para esconder as intenções e atos do poder por parte de governantes e da estrutura política. Não saberia identificar exceções, mas está a olhos vistos que os políticos em primeiro plano servem aos seus próprios interesses e conveniências para depois pensar na sua real função de atuar em defesa das questões coletivas e públicas. Para manter-se no poder e continuar mamando no bolsa estado, usam de qualquer atitude e recurso, fazendo secundariamente seu dever funcional. Por outro lado, os partidos políticos a rigor já não se diferenciam e as siglas servem apenas para fazer alusão a antigas definições de direita e esquerda, hoje sobrepujadas pela competição de poder e riqueza que o mundo mercantilista elegeu como prioritários. A construção das chamadas alianças políticas são a prova cabal dessa busca inescrupulosa por cargos, leiloadas amiúde em troca de favores. Porém, todos eles estão de acordo em legislar e promulgar atos em atenção a seu autobenefício. O terreno político, vazio de idéias e ideologias, é farto de interesses específicos, cada grupo se julgando dono de todos os recursos nacionais, esperando se apropriar do máximo que puder, mesmo que isto destrua o País. Um egoísmo burro tomou conta dos interesses nacionais, dividindo nosso país em corporações e negócios. Os políticos, depois de eleitos, fazem o que querem e bem entendem. Simplesmente, esquecem do seu compromisso maior. De outro modo, nós, que os elegemos, dada a estrutura vigente, sequer projetamos alguma forma de exigir a postura, a seriedade e o comprometimento adequados, pelo simples fato de que uma vez estabelecidos eles não podem ser demitidos como faria qualquer organização administrativa correta, quando o servidor não corresponde. Estas e muitas outras mazelas da estrutura política nos fazem enojar dos assuntos políticos a ponto de nos alienar dessas questões. Ou não é isto que significa a abstenção de mais de 29 milhões de brasileiros (21,50%) no segundo turno da eleição para a principal função pública do país, somados ainda os mais de 7 milhões de votos nulos e brancos (6,70%)? Por isto, se diz “à boca pequena” que política não é para gente séria, é um circo montado em que os palhaços (nós) são meros coadjuvantes. Muitos de nós reclamamos, reclamamos, mas isso de nada adianta. Com efeito, estamos nos tornando analfabetos políticos, na concepção de Bertold Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Não sabe que tudo depende da Política. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais." Para combater esse tipo de analfabetismo e afastar os políticos nefastos, nada melhor que pessoas verdadeiramente éticas, de bom caráter, formação ilibada e, principalmente, preocupadas com as questões públicas, sociais e coletivas saiam da clandestinidade e da omissão, passem a frequentar os lugares políticos. O MSV (movimento dos sem vergonha) vem dominando o panorama, mas há possibilidade de reversão. Missão que não é fácil, mas absolutamente necessária para que possamos trilhar melhores caminhos. Está mais do que na hora de preencher com bom conteúdo o vazio político em que nos encontramos.                       Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 22.11.2010         

POLITICAMENTE CORRETO

O título refere-se a uma expressão multinacional cada vez mais usada no mundo das conveniências e das manipulações, as quais vem marcando nosso tempo. O “politicamente correto” se apresenta sempre com frases e atitudes pseudobondosas e argumentos de fácil assimilação. No entanto, é fundamental desconfiar das opiniões generalizadas. Lembremos sempre da Primeira Lei de Milton: “ignorância não gera dúvidas”. Na verdade, o politicamente correto prepara o terreno de forma ideal para a desinformação e o crescimento de nossa estupidez.  Quando o politicamente correto vence, recebemos “bem” qualquer propaganda através de termos repetidos, os quais consistem em conceitos simples e imbecis. Esta será a nova opinião pública globalizada. Então, seria politicamente correto, uma Empresa mundial de bebidas veicular propaganda na qual compara o número de bebedores de seu produto com número de armas fabricadas? Embora o Ministério da Saúde não advirta sobre os malefícios causados por ambos, leva-se o público televisivo a crer que está tudo bem e as coisas boas são maioria, já que, entre outras comparações (nada a ver) a ingestão da bebida é melhor do que o prejuízo dos arsenais. Temos de rechaçar esta falsa inocência e desconstruir a facilidade de assimilação. É necessário, do mesmo modo, prevenir-se contra o disfarce vocabular. Mesmo porque parece que as duas palavras do título, no momento, não combinam. Se ao correto corresponde o irrepreensível, íntegro, honesto, digno, aos políticos sobram desconfianças, decepções, corrupção, prevaricação. A realidade mostra que existem políticos que honram seu compromisso público, no entanto, hoje, estão em minoria. Esta é a razão pela qual as pessoas de bem se desinteressam da atividade política, enojam-se dos fatos públicos que cada vez mais ocupam as páginas da Imprensa, e chegam a afirmar que a Política não é terreno para gente decente ou, se o é, o sistema trata de corromper. Entretanto, podemos acreditar que se o cidadão tem formação reta e caráter sólido, convicção de elevados objetivos, resiste à contaminação. Se não, referendaríamos o fato de que cada vez mais os cargos político-públicos vem sendo ocupados por pessoas não qualificadas, oportunistas, entre eles artistas de todos os gêneros, que se aproveitam da notoriedade e da ignorância do voto-protesto para acomodarem-se nas Cortes do Poder e suas benesses, não para cumprir exatamente a missão de servir ao público e sim para locupletar-se e aproveitar-se de suas regalias, aliás, também aprovadas nas legislaturas com interesse próprio. E assim a coletividade se vê submetida e conduzida por “profissionais” da Política que há anos freqüentam o Poder e não largam o osso, o melhor, a carne. Sim, porque eles se reservam o melhor de tudo. Para muitos, à Educação estaria reservado o papel transformador. Contudo, esse é um processo lento demais para as urgentes transformações que necessitamos. Precisamos mudar já. Para esse fim, ousemos convocar os homens e mulheres probos, honestos, de boa índole, caráter sério e digno, comprometidos com os bens públicos e as comunidades, entre outras qualidades. Gente que não dependa da Política para sustentar-se e exercite seu mandato com tempo definido sem prever aposentadoria, que exerça seu mandato integralmente e não se licencie para concorrer a outros cargos, que defenda as causas comunitárias e coletivas e não preocupado em conseguir votos através de favores pessoais, que tenha a Ética (em seu significado verdadeiro de respeito ao outro) e o compromisso de posicionar-se em atenção à melhor qualidade de vida das populações. Convocar para quê? Para que ingressem nos quadros partidários, ainda que os demasiados partidos não mais se diferenciem por suas ideologias (com raras exceções) e sejam, por enquanto, formados por interesseiros eleitorais. Para que possamos estar unidos e de acordo em transformar a Política. Ela em si tem boa finalidade, o que a desvirtua são suas operacionalizações. Pactuemos que somente com a participação de pessoas de bom caráter na Política, poderemos afirmar que politicamente e correto são termos compatíveis.
                                                   Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 23.05.2011

REFORMA DA CULTURA POLÍTICA

Estão em curso as discussões sobre a Reforma Política, visando já as eleições de 2012. No entanto, da mesma forma como são tomadas as decisões políticas, as resoluções ficarão restritas a “determinados” círculos de influência e poder. Permite-se, apenas, a manifestação pública para asseverar o sofisma democrático. Por aqui, discute-se o aumento do número de vereadores na Câmara Municipal; o Diário Popular registra mais de uma dezena de artigos abordando esse tema e uma audiência pública foi realizada para tal. Para quê? Após as intervenções pró e contra, os vereadores deram a entender que pouco ou nada os afastará de sua decisão pessoal ou partidária, conforme as conveniências, nem mesmo as duas pesquisas públicas que apontam ampla declinação popular pela manutenção dos atuais quinze legisladores. As mazelas políticas não se restringem ao solo brasileiro; no mundo inteiro, com raras exceções, os políticos vem sendo rechaçados em virtude dos privilégios legislados em causa própria bem como pela  formação de classe profissional mantendo-se nas esferas do poder. No país, a verdade é que a permanência desses políticos deve-se à aculturação política da grande massa de eleitores, enganados pela oratória fácil ou pelo aceno de vantagens e favores pessoais. Contam também as manobras do Poder Econômico que submete e alimenta o caráter corruptível da maioria dos políticos. Em geral, as pessoas que tem alguma formação cultural-educativa informam-se das falcatruas, sabem dos meandros na Política, mas equivocada e infelizmente se desinteressam pela mudança dos rumos políticos. Parece estar plasmado que Política não é para gente decente, por isso indivíduos capacitados, os quais fariam diferença caso assumissem algum assento político, não querem envolver-se. De outro lado, os atuais detentores de mandatos agarram-se com unhas e dentes a seus postos, obstaculizando a absoluta e necessária renovação das estruturas de poder e dos mandatos. Em que pese a inquestionável assertiva de que todos dependemos da Política, lamentavelmente poucos homens com idoneidade, éticos e corretos (carecemos de bons exemplos!) dispõem-se a dar sua contribuição pública para a moralidade das instituições. Afora isso, os cargos públicos são rateados entre partidários ou indicados por aqueles que estão nos poderes, desprezando a necessidade de contratação sob a égide técnica. Ante tais constatações, como acreditar na Política quando comprovadamente ela se afasta das demandas e das privações coletivas? Os políticos deveriam ouvir e servir o público, por um mandato ou, no máximo dois, e não servir-se do que é público ao ocupar cadeira cativa. Ou mesmo tomar rumos contrários à postulação pública de reduzir desperdícios, estruturas ineficientes, diminuição de gastos públicos, menos “pompa e circunstância”, e mais atividade, objetividade e dignidade. As comunidades precisam eleger representantes que defendam interesses para todos e não interesses localizados. Seguramente, os eleitos não o foram para atender seus partidos, um ou outro pleito de algum eleitor ou pequeno número de beneficiados. Com efeito, por que não se respeita a vontade popular? Façam-se enquetes pela Internet (já é tempo de usar essa ferramenta de rápidos resultados) e verificar-se-á que a expressiva maioria opinará pela redução de deputados estaduais, federais, senadores, ministérios e todos os cabides de emprego daí resultantes, extinção de foro privilegiado e outras benesses, viagens, inadmissíveis subvenções aos políticos, férias de trinta dias para parlamentares, promotores e juízes, farra de salários (14º e 15º), inclusive de assessores (há cerca de 20.000 funcionários no Congresso), acesso a cargos públicos exclusivamente por concurso, punição e inegibilidade para corruptos e malversação do dinheiro público, etc. Haveria mais a relatar, mas este espaço é limitado para listar as inúmeras impropriedades que a população gostaria de corrigir. Finalmente, para seguirmos em direção a melhor avaliação política e desenvolvimento do país, precisamos encarar uma reforma na cultura política e democrática, em que a postura de eleitores e eleitos esteja prioritariamente voltada a amplo benefício coletivo.                   Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 03.10.2011